quinta-feira, 16 de junho de 2011

O menino que nunca...

Não arrumei meu cabelo, como de costume, dê-me um desconto, tinha apenas cinco anos, nem mesmo via um motivo para preocupar-me com tal aparência. Fomos à casa de nossa tia, prima de minha mãe. Costumava prestar atenção mais nas tragédias que aconteciam com as crianças do que nas brincadeiras que meus primos, tão empolgados, propunham. Abstinha-me da diversão para garantir minha segurança e por isso não me retirava do lado dos meus pais. Hoje não me recordo de muitas histórias, no entanto, sei como nasceu esse menino que nunca...

Não poderíamos fazer aquilo, pelo menos era o que a professora falava, mas nunca tínhamos tentando para ver no que dava. A gente combinou de não entrar para a aula após o intervalo e ficar escondido no pátio. O sinal tocou e fomos para o cantinho, todos rindo nervosamente, de repente eu avistei a professora atravessando a quadra e se dirigindo para a entrada do bloco onde ficava nossa sala, um nervosismo se apoderou de mim, e sem dizer uma palavra corri para a multidão que retornava às aulas. Aos dez anos era uma aventura e tanto fugir das inspetoras bravas, meus amigos não foram descobertos e comentam sempre como foi legal fazer aquilo. Eles copiaram as lições do meu caderno, e a lição que ficou para mim foi como cresceu esse menino que nunca...

Nós diríamos para nossas mães que dormiríamos um na casa do outro, para fazer um trabalho de ciências e jogar videogame. Na verdade, naquele fim de semana iria acontecer a festa de uma das meninas da turma do terceiro ano, e nós havíamos sido convidados, porém nossos pais não nos deixaram ir. Mas era uma festa, e da menina do terceiro ano, aos 15 anos recusar esse convite seria uma idiotice. Próximo da hora de sair meu pai perguntou qual era o telefone da casa onde eu posaria para ele me liga e combinar como me buscar, eu disse para ele que não estava me sentindo muito bem, que faria meu trabalho sozinho e deixava o videogame para outro dia. Assim continuou crescendo o garoto que nunca...

Cansei-me do trabalho, e para variar o ônibus estava lotado. Cheguei cedo e fui fazer um lanche conversando com uma amiga, e vi você passar, mais uma vez te observei silenciosamente. Reparei no seu casaco quadriculado, no seu all star branco, nos seus cabelos amarrados. Quando estava a retornar você sorriu e disse oi, eu respondi com um olá, e comentei sua beleza para alguém. Depois sempre dava um jeito de te ter no meu campo de visão, até me desconcentrava. Aos vinte anos não saber como agir na presença do sexo oposto é um pouco demais. A hora passou e fomos embora, e tudo que eu digo é no máximo um tchau e até amanhã. E passo mais uma noite idealizando o nada que eu construo. Assim se segue a vida do menino que nunca...