quarta-feira, 9 de março de 2011

Lágrimas da Nuvem

(Noite Estrelada - Vincent Van Gogh)

Seis e meia da manhã, anunciava o despertador, Lucas acordou com vontade de jogá-lo na parede. Ele se levantou e foi tomar banho, como sempre, a água não aqueceu o suficiente, terminou de aprontar-se, pegou sua mochila e saiu para pegar o ônibus. Junior, seu cachorro, estava com a pata suja, e ele foi ao trabalho com uma marca de barro em sua calça.

Tempo nublado, frio, e a partir daquele momento, chuvoso. Ele notou que seu guarda-chuva estava quebrado. O ônibus lotado o fez apertar sua mochila e perceber que esquecera sua pasta com as tarefas do dia.

Após ter corrido por quatro quadras, Lucas entrou na escola atrasado e seguiu direto para a sala. O barulho o deixou sem ação, então simplesmente começou sua aula passando textos no quadro. Um dos alunos notou a mancha em sua calça e comentou em alta voz para que todos percebessem. Como um professor inexperiente, apenas fingiu que nada estava acontecendo. Logo trocou de turma, e os estudantes comemoraram o esquecimento do professor e a prova adiada.

Ao fim da manhã Lucas enfrentou outro ônibus. Chegando em casa ligou o fogão para esquentar o que sobrou da janta na noite passada, o telefone tocou para mais uma cobrança, se distraiu e acabou deixando o único bife queimar. "Ainda bem que hoje é dia de pagamento", pensou.

Esperou cerca de uma hora na fila do banco e recebeu apenas metade do que precisava. Foi um mês difícil, teve muitas faltas no trabalho e conseqüentemente muitos descontos salariais.

O tempo começou a melhorar, a chuva cessou. Ele entrou em contato com a sogra, pois as crianças estavam passando uma temporada na casa dela, e já era hora de buscá-las para realizarem juntos a grande tarefa. O pai comprou um bolo, e com todo cuidado tomou outro ônibus, graças a Deus o bolo permaneceu intacto. As crianças ficaram felizes por vê-lo, elas já estavam prontas aguardando por sua chegada, os meninos passaram gel no cabelo, e a menina usava seu melhor vestido. Lucas chamou um táxi e partiram.

O hospital estava calmo naquele dia. Rapidamente prepararam o bolo, acenderam as velas e entraram no quarto cantando parabéns baixinho para a mãe que os aguardava confiante e fraca. Naquele momento todas as suas forças se uniram para dar um sorriso. As crianças deram seus desenhos para a aniversariante com lágrimas nos olhos, e o presente era um belo lenço para cobrir-lhe a falta de cabelos. Lucas beijou sua esposa, as crianças a abraçaram.

O horário de visitas terminou e Lucas gastou seu último trocado no táxi para as crianças voltarem para a casa da avó.

Lucas foi embora caminhando, e por sinal, uma longa caminhada de reflexão, satisfação, e a partir daquele momento, chuva.

1 comentários:

Anônimo disse...

Você já escreveu esse texto antes, me lembro dele...