domingo, 31 de outubro de 2010

Eu existo...

Gostaria de postar um trecho da música “Sentado à beira do caminho” de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Por sinal uma grande poesia que retrata uma verdade. Há momentos na vida em que nada mais parece fazer sentido. E tudo o que nos perguntamos é “tá! E pra que tudo isso?”. Afinal, qual é a finalidade de termos tantas obrigações e deveres. Bem, ainda não encontrei respostas, mas eu EXISTO, e preciso VIVER essa existência, apesar de tudo que pode nos abater, precisamos fazer tudo isso valer a pena. Aqui vai uma palavra de encorajamento, para mim também, nunca panse que as coisas poderiam ser melhores ou iguais sem você. A sua existência pode ter alterado a história do mundo, mesmo não percebendo isso. Entre o saber qual é o sentido e não saber, podemos dar esse sentido.

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo…

Vem a chuva, molha o meu rosto
E então eu choro tanto
Minhas lágrimas
E os pingos dessa chuva
Se confundem com o meu pranto…

Olho prá mim mesmo e procuro
E não encontro nada
Sou um pobre resto de esperança
À beira de uma estrada…

sábado, 2 de outubro de 2010

Quero simplesmente viver...

Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre,
jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só. Amir Klink


A falta de vida em minha vida, hoje, faz-me perceber a distância de um caminho percorrido sem marcas. A viagem já começou, mas não presenciei nada. Estou imóvel, sentado na poltrona de um trem em movimento, com as cortinas fechadas.
Minha bagagem ainda permanece sem alterações, nada foi tirado e nada acrescentado. Não carrego lembranças dos lugares por onde passei.
Senti outro clima, me aqueci em tempo frio, até ouvi outros sotaques. Mas nada direcionado a mim, apenas presenciei a vida de outros. E censurei, critiquei, e selecionei quem poderia se achegar a mim, por consequente, não há quem tenha se achegado.
Hoje, queria contar para alguém o que ocorreu, mas não há quem. Queria dividir a barra de chocolate, mas acabo guardando para o próximo filme sem comentários. Queria pedir dois sabores em uma pizza, mas só gosto de um. É difícil ter vida sem gente.
A solidão é boa, quando é alternativa. As coisas saíram do controle, e a alternativa foi selecionada. Estar na solidão, sem a escolha de não estar torna isso muito mais vazio e agustiante.
Acredito que na próxima estação haja a opção de um próximo destino, para um novo horizonte. De começar as coisas de novo, e de reparar os erros.
Não quero mais apenas analisar, esperar o tempo passar e escrever sobre. Quero estar inserido nesse contexto, quero poder estar ocupado para simplesmente analisar. Não quero apenas escrever sobre, quero contar minha experiência.
Mas enquanto isso, cá estou eu, analisando, esperando o tempo passar e escrevendo sobre.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Revolução dos Bichos

ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 1ª edição, 13ª reimpressão,2007.147.

Após anos de exploração a que os humanos os submetiam, os animais iniciam uma revolução na Granja do Solar. Com a intenção de iniciar um novo tempo de igualdade entre todos, eles se apoderam da fazenda. Acreditando sempre que os humanos eram os vilões. Porém em um curto período o poder sobe a cabeça dos animais que lideravam, no caso os porcos, e inicia-se um movimento de manipulação e corrupção, abusando da ignorância dos outros animais para se favorecer. Inserida em um contexto histórico polêmico, a narrativa é uma metáfora da revolução Russa Soviética publicada em época da Guerra Fria.

O livro é dividido em 10 capítulos numerados, cada qual apresenta acontecimentos narrados em terceira pessoa focando especificamente no ambiente da Granja do Solar, que é o local onde ocorre a história.

O início dá-se em um dia comum de trabalho quando, o Sr. Jones, dono da granja, recolhe-se ao anoitecer, logo os animais se reúnem no celeiro a pedido do Major, um velho porco com grande reputação entre os animais, que lhes contaria um sonho que tivera na noite anterior, o mundo sem o homem. Nesse encontro o Major passa toda a visão da revolução e a liberdade de que os animais podem gozar se viverem independentes. Os porcos, considerados os mais inteligentes, acabam dando segmento aos ensinamentos do velho porco que três dias após falece durante seu sono. Entre os ensinamentos que deixara citava o dever de inimizade para com o homem.

A rebelião ocorreu após a morte de Major, a qual botou Jones para fora da fazenda, os tornando aparentemente livres. Na parede do fundo do celeiro foram escritos os mandamentos deixados pelo Major, os quais eram: 1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo./ 2. O que andar sobre quatro pernas, ou tiver asas, é amigo./ 3. Nenhum animal usará roupa./ 4. Nenhum animal dormirá em cama./ 5. Nenhum animal beberá álcool./ 6. Nenhum animal matará outro animal./ 7. Todos os animais são iguais. Pelos quais os animais tinham muito respeito. Até que os sete mandamentos são sintetizados na máxima que regia o chamado animalismo “quatro pernas bom, duas pernas ruim”.

Sr. Jones tenta recuperar a propriedade, mas é vencido pelos animais na “Batalha do Estábulo”. O cavalo Sansão e o porco Bola-de-Neve são homenageados pela coragem que demonstraram durante a luta. Logo, Mimosa, uma égua, vai para a fazenda vizinha, conquistada pelos mimos dos homens que lá habitavam. Surgiu então, a idéia da construção do Moinho de Vento. Os animais ficam em dúvida quanto a novidade.

Bola-de-Neve e Napoleão fazem suas campanhas políticas, o primeiro conquista os bichos com suas palavras, já Napoleão, usou a força de cães para expulsar Bola-de-Neve na granja e é colocado automaticamente no posto de líder. Desde então os animais passam a trabalhar ainda mais, para construírem o moinho. Gradativamente vão se esquecendo de como eram os tempos com Sr. Jones, e como a maioria deles não aprendeu a ler, os mandamentos vão sendo modificados conforme Napoleão e os assessores vão agindo fora dos princípios estabelecidos inicialmente. Os porcos começam: a negociar a produção da granja, a morar na residência do Sr. Jones, dormir em camas, usam roupas, bebem uísque, relacionam-se com homens. Os bichos são facilmente convencidos de que estavam interpretando errado, e os poucos que sabiam ler se omitiam. Tudo de errado estavam acontecendo na fazenda, alguns animais são executados, culpados de traição, e tudo que os animais percebem de errado atribuem a culpa a Bola-de-Neve. Tempos após, acontece outro ataque dos humanos, e apesar das perdas os bichos vencem, porém, desta vez tudo o que havia sido construído do moinho é destruído, e além de sofrerem as privações de ração ainda trabalham na reconstrução desse projeto. Sansão era sempre respeitado por tudo que dedicava aos trabalhos na fazenda, assumiam os jargões elaborados pelos donos do: “trabalharei mais ainda” e “Napoleão tem sempre razão”, houve um dia em que Sansão sentiu-se mal e precisava de cuidados, então os porcos chamaram o grande veterinário, Benjamim que era o burro, e sabia ler, avisou a todos que a carroça na havia escrito “Matadouro de Cavalos”, mas mais uma vez Garganta convenceu a todos de que o escrito era velho, o veterinário apenas não o cobrira. Poucos dias depois chega a notícia que Sansão havia morrido, e o porcos recebem uma caixa de uísque.

A esta altura o único mandamento que não fora adulterado era o sétimo. Em uma noite, os porcos receberam visitas de humanos. Os vizinhos elogiaram muito pelos métodos que desenvolviam na granja, "... os animais inferiores da Granja dos Bichos trabalhavam mais e recebiam menos comida do que quaisquer outros animais do condado.", todos os princípios da revolução estavam adulterados e corrompidos pelas palavras e ações de Napoleão. Os animais observavam de fora a confraternização entre porcos e humanos e se decepcionariam com o que escutaram. “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”

Orwell fora perspicaz, quando em um momento insatisfeito escrevera esse conto de fadas, que nada mais é do que um retrato de um ciclo verdadeiro que se repete periodicamente nas diversas sociedades e formas de governo pelo mundo. A insatisfação que inspirou o autor foi o governo de Stalin. Em determinada parte do livro, começa-se a identificar os personagens históricos implícitos aos personagens fictícios que ilustram a fábula, como, Major (Lenin); Napoleão (Stalin); Bola-de-neve (Trotsky); as ovelhas, que repetem sem consciência os lemas; os cavalos com seus tapa-olhos que só conseguem olhar para o trabalho; as galinhas que se perdem na dispersão; o burro empacado em suas verdades; os cães fiéis à guarda de seus donos. A triste realidade que é narrada neste livro, que foi e é realidade até hoje. Revolucionários surgem, persuasivamente juntam pessoas que concordem com suas idéias, logo o poder corrompo o homem, que passa a agir sempre focando em segundas intenções favorecendo projetos, geralmente particulares, e os que trabalharam e acreditaram acabam tornando-se escravos de sua própria revolução.

Escrito com uma linguagem relativamente elitizada, apesar da escolha das palavras serem leves e um texto com erudição suficiente para prender o leitor. Um livro para todas as idades recomendado a pessoas que se interessam com assuntos relacionados a sociologia, filosofia e história.

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair (1903-1950), nasceu na Índia e foi educado na Inglaterra. Jornalista, crítico e romancista, serviu o exército britânico na Birmânia e lutou como voluntário na Guerra Civil Espanhola. Algumas obras: Dentro da baleia e outros ensaios, Na pior em Paris e Londres, A flor da Inglaterra, Dias na Birmânia, 1984 e O caminho para Wigan Pier.