sábado, 31 de dezembro de 2011

Happy... New Year!!

       
            Diria Dylan que quando não se tem nada, não há nada a perder. Contudo, nesse ano percebi que mesmo quando se tem nada, é possível abrir mão disso a fim de se obter espaço para que novos ‘nadas’ cheguem. Penso no que Nietzsche pensara ao escrever em sua Ciência Gaia o atormentador e agente de mudanças Eterno Retorno. Uma paulada para quem, como eu, considera-se, ou melhor, considerava-se seguro e resolvido. Aliás, indico!
           Horas de Summertime e horas de Buckets of Rain. O curto e demorado 2011 foi um começo e um fim, uma fase intermediária. Foi tão parado e tão intenso, tão esperado e tão frustrado. Tão paradoxal.
           Todos esses desafios enfrentados e pelos desafios não vencidos. Pelos olhares sorridentes que derramaram lágrimas, no fim das contas. Todos os livros devorados e incompreendidos. Todos os cálculos não exatos e as teorias não comprovadas pela massa cinzenta. Por todos os abraços e pelas pedras na Geni. Pelo ano de luta e pelo nome fora da lista. Por todos os amigos e apenas por eles. Pelo virtualização do real e pela realização do virtual. Pela família e pelo princípio. Pelo ambiente e pela seleção natural, ou artificial.
            Por tudo o que valeu a pena, e todo o não cumprido é que espero que 2012 seja grande, não longo, mas grande. Não assustador, mas surpreendentemente bom. Já está aí, e mordiscando nossos calcanhares, prometendo o fim de tudo, planejando o começo da nova vida, que talvez seja a mesma, porém em um novo mundo.
             Não há suficiência em um obrigado que exprima o que sinto pelas pessoas que estiveram ao meu lado. A todos, que sabem que são família, amigos e mestres. Espero poder contar com vocês, assim como me proponho a estar aqui sempre que precisarem.
              E que 2012 chegue no tempo certo, sem pressa. Que a vida agreste não nos faça de alma agreste. E nós, que quase não sabemos nada, mas que desconfiamos de muita coisa, saibamos pegar o caminho certo, e se não houver um certo, que seja o melhor.
             Boas festas, bom 2012!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O menino que nunca...

Não arrumei meu cabelo, como de costume, dê-me um desconto, tinha apenas cinco anos, nem mesmo via um motivo para preocupar-me com tal aparência. Fomos à casa de nossa tia, prima de minha mãe. Costumava prestar atenção mais nas tragédias que aconteciam com as crianças do que nas brincadeiras que meus primos, tão empolgados, propunham. Abstinha-me da diversão para garantir minha segurança e por isso não me retirava do lado dos meus pais. Hoje não me recordo de muitas histórias, no entanto, sei como nasceu esse menino que nunca...

Não poderíamos fazer aquilo, pelo menos era o que a professora falava, mas nunca tínhamos tentando para ver no que dava. A gente combinou de não entrar para a aula após o intervalo e ficar escondido no pátio. O sinal tocou e fomos para o cantinho, todos rindo nervosamente, de repente eu avistei a professora atravessando a quadra e se dirigindo para a entrada do bloco onde ficava nossa sala, um nervosismo se apoderou de mim, e sem dizer uma palavra corri para a multidão que retornava às aulas. Aos dez anos era uma aventura e tanto fugir das inspetoras bravas, meus amigos não foram descobertos e comentam sempre como foi legal fazer aquilo. Eles copiaram as lições do meu caderno, e a lição que ficou para mim foi como cresceu esse menino que nunca...

Nós diríamos para nossas mães que dormiríamos um na casa do outro, para fazer um trabalho de ciências e jogar videogame. Na verdade, naquele fim de semana iria acontecer a festa de uma das meninas da turma do terceiro ano, e nós havíamos sido convidados, porém nossos pais não nos deixaram ir. Mas era uma festa, e da menina do terceiro ano, aos 15 anos recusar esse convite seria uma idiotice. Próximo da hora de sair meu pai perguntou qual era o telefone da casa onde eu posaria para ele me liga e combinar como me buscar, eu disse para ele que não estava me sentindo muito bem, que faria meu trabalho sozinho e deixava o videogame para outro dia. Assim continuou crescendo o garoto que nunca...

Cansei-me do trabalho, e para variar o ônibus estava lotado. Cheguei cedo e fui fazer um lanche conversando com uma amiga, e vi você passar, mais uma vez te observei silenciosamente. Reparei no seu casaco quadriculado, no seu all star branco, nos seus cabelos amarrados. Quando estava a retornar você sorriu e disse oi, eu respondi com um olá, e comentei sua beleza para alguém. Depois sempre dava um jeito de te ter no meu campo de visão, até me desconcentrava. Aos vinte anos não saber como agir na presença do sexo oposto é um pouco demais. A hora passou e fomos embora, e tudo que eu digo é no máximo um tchau e até amanhã. E passo mais uma noite idealizando o nada que eu construo. Assim se segue a vida do menino que nunca...

domingo, 1 de maio de 2011

Eu quis...

Queria eu gritar, por pra fora, me liberar, me libertar, me permitir.

Eu queria mesmo é me concretizar, me ser de verdade, me ser real.

Eu queria ter amigos por prazer, não por solidão.

Queria é esbanjar do que nunca vou ter, sem me preocupar com o que tenho.

Queria é ter sucesso em tudo, independente, só sucesso.

Mas o que eu queria mesmo é ter todas as mulheres que me derem na telha, sem me preocupar com as expectativas.

Na verdade, queria não precisar me preocupar com a futilidade da mente humana, que só olha pro valor, monetário mesmo, que a alma dos outros tem.

Queria eu reinar sobre um reino, um pouco maior que meu quarto.

Queria abranger além da tangente, queria invadir o território proibido.

Queria, mesmo, de verdade, é sentir, sem ter que fazer de conta, pra não ser chamado insensível.

Sem frescuras, eu queria é chorar, pois meu não chorar é dolorido, preferia ter lágrimas constantes à falta de reação.

Queria é ter o controle, além do remoto.

Queria tocar os outros, não mais ser ignorado, tanto considerado quanto o centro das desatenções.

Queria é chegar na tua cara e te dizer o impacto invisível que você tem na minha vida, e não apenas gírias da moda e perguntar sobre a semana.

Queria é não viver nessa selva de coelhos fofinhos e selvagens.

Querer por querer eu não quero, mas se não assim, não quero é nada.

Queria querer não me reduzir.

Queria é não me anular nos meus preconceitos.

Queria saber se existe certo e errado, num mundo em que fazer direito é andar na esquerda.

Queria viver, já que morri todo dia me negando o querer.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

tragicidades...




As crianças morreram
As meninas imploravam “não atira em mim, moço”
Ainda assim suas memórias foram perfuradas

A vida foi mais uma vez banalizada
A vida deixou transparecer sua natureza esquálida
Quem está a respirar
Sente a dor que o ar carrega para suas entranhas

A dor lacerante desse dia
Nunca desaparecerá de suas mentes
A partir desse vórtice
O trauma viverá no lugar de quem desvanecera.

______________________________________________________

07/04/2011
Realengo, Rio de Janeiro

domingo, 13 de março de 2011

Escuro.

Eu não uso drogas, não bebo, não sou um viciado em sexo, nunca tive crises depressivas, nunca tentei me matar, nunca tomei remédios para dormir, não trato a vida com indiferença, não sorrio por sorrir, não choro nunca.

Meu corpo parece ser uns cinco anos mais velho do que a idade real, tenho olheiras, insônia, poucos amigos, poucos bens, muitas ideias, muitos livros, tenho um amor, algumas paixões, muita indecisão, algumas indagações, tenho um celular velho, uma flor ao lado da minha cama, tenho um perfume e uma alma.

Escuto rock, por que tem dias que só o rock resolve, escuto MPB, pra poder apreciar, escuto sertanejo pra dançar juntinho, e escuto pagode por falta de opção. Sou eclético de forma justa, e às vezes tão justa que não tem espaço para gostar de mais nada.

Tenho evidências que desfazem muitos clichês, não sou falso, mas não gosto de assustar ninguém com a escuridão radiante que mora em mim.

Nunca pensei em morrer, mas nunca consegui me visualizar daqui a 20 anos, é uma duvidosa certeza de que esse tempo não existe. Como diria o poeta, na verdade não há.

Protejo-me de tudo e de todos, e sempre acabo me ferindo sozinho. Tenho a melancolia de um artista livre dentro de mim. A arte me diz tudo que não preciso saber, mas é tudo que me ajuda a viver. Eu danço sobre as palavras, como se tivessem ritmos, como se fossem meu primeiro idioma.

Pergunto-me, então, pra que o corpo quando o que uso não pesa? , pra que o corpo se a realidade não está nele? , por que do corpo se nem mesmo a dor está nele?

Minha incoerente conclusão concluiu que o corpo é o canal para a alma viver, mesmo tão esquálido. A força da alma precisa se combinar a fraqueza da carne.

Por mais poético, clichê e manjado que seja dizer que a vida é uma arte, eu sempre digo, basta criar sempre... " e se não é pela arte, porque a alma pesando o corpo?"

quarta-feira, 9 de março de 2011

Lágrimas da Nuvem

(Noite Estrelada - Vincent Van Gogh)

Seis e meia da manhã, anunciava o despertador, Lucas acordou com vontade de jogá-lo na parede. Ele se levantou e foi tomar banho, como sempre, a água não aqueceu o suficiente, terminou de aprontar-se, pegou sua mochila e saiu para pegar o ônibus. Junior, seu cachorro, estava com a pata suja, e ele foi ao trabalho com uma marca de barro em sua calça.

Tempo nublado, frio, e a partir daquele momento, chuvoso. Ele notou que seu guarda-chuva estava quebrado. O ônibus lotado o fez apertar sua mochila e perceber que esquecera sua pasta com as tarefas do dia.

Após ter corrido por quatro quadras, Lucas entrou na escola atrasado e seguiu direto para a sala. O barulho o deixou sem ação, então simplesmente começou sua aula passando textos no quadro. Um dos alunos notou a mancha em sua calça e comentou em alta voz para que todos percebessem. Como um professor inexperiente, apenas fingiu que nada estava acontecendo. Logo trocou de turma, e os estudantes comemoraram o esquecimento do professor e a prova adiada.

Ao fim da manhã Lucas enfrentou outro ônibus. Chegando em casa ligou o fogão para esquentar o que sobrou da janta na noite passada, o telefone tocou para mais uma cobrança, se distraiu e acabou deixando o único bife queimar. "Ainda bem que hoje é dia de pagamento", pensou.

Esperou cerca de uma hora na fila do banco e recebeu apenas metade do que precisava. Foi um mês difícil, teve muitas faltas no trabalho e conseqüentemente muitos descontos salariais.

O tempo começou a melhorar, a chuva cessou. Ele entrou em contato com a sogra, pois as crianças estavam passando uma temporada na casa dela, e já era hora de buscá-las para realizarem juntos a grande tarefa. O pai comprou um bolo, e com todo cuidado tomou outro ônibus, graças a Deus o bolo permaneceu intacto. As crianças ficaram felizes por vê-lo, elas já estavam prontas aguardando por sua chegada, os meninos passaram gel no cabelo, e a menina usava seu melhor vestido. Lucas chamou um táxi e partiram.

O hospital estava calmo naquele dia. Rapidamente prepararam o bolo, acenderam as velas e entraram no quarto cantando parabéns baixinho para a mãe que os aguardava confiante e fraca. Naquele momento todas as suas forças se uniram para dar um sorriso. As crianças deram seus desenhos para a aniversariante com lágrimas nos olhos, e o presente era um belo lenço para cobrir-lhe a falta de cabelos. Lucas beijou sua esposa, as crianças a abraçaram.

O horário de visitas terminou e Lucas gastou seu último trocado no táxi para as crianças voltarem para a casa da avó.

Lucas foi embora caminhando, e por sinal, uma longa caminhada de reflexão, satisfação, e a partir daquele momento, chuva.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Amor à vista prévia.


Assim, lentamente começou a pensar. Seus olhos ficaram cravados nela. Seu corpo se movimentava, mas seus olhos estacionaram na beleza que ali se encontrava apenas observando o lugar.

Pensou em como sua beleza era radiante, em como as maças de sua face eram bem moldadas, e que somadas aos seus delicados lábios faziam seu sorriso parecer uma obra de arte.

Talvez isso não signifique nada – pensara, mas com certeza era apenas um modo para tentar manter o controle. Isso ficou evidente quando passou a notar seus cabelos lisos, castanhos, que no momento estavam presos, mas conseguia imaginá-los ao vento.

Foram os quinze minutos mais sentidos, impactantes e encantadores que já tivera. Nesse momento sabia que ela representava alguém especial, alguém como sua primeira paixão.

Tentou frear seus pensamentos, pois nem ao menos sabia o nome desta que o hipnotizara. Concluiu por si só no segundo seguinte: “A questão não é se temos afinidade ou não, a questão é que dou a ela um espaço para ser alguém em minha vida.”